sexta-feira, 2 de setembro de 2011

escola: porque, pra quem, como...

A discussão é complicada, são tantos os problemas que fica difícil pensar em por onde começar. Começamos o processo com o filme "Pro Dia Nascer Feliz", que mostra o cotidiano e depoimentos de alunos, professores e diretores sobre o sistema de ensino brasileiro. Engraçado ver como, sem precisar conhecer objetivamente as ideias de Marx, a galera trás a luta de classes pro centro da discussão quando aparece a galera que estuda em escola particular e seus problemas. A distância entre os mundos, apesar da proximidade de idade, juventude, crises, já coloca em pauta a desigualdade (e sua perpetuação!?) nas condições de acesso, desenvolvimento, aprendizado, etc..
De início os jovens colocaram as questões relativas a seu desgosto por ir à escola: não entendem a relação das matérias com o cotidiano de suas vidas; querem poder opinar no dia a dia e andamento das aulas; querem fazer mais do que ouvir, ler e reproduzir; querem novos meios pra aprender; entre outras coisas...
Na sequência das discussões lançamos problematizações sobre qual o papel dos jovens nesse contexto, a situação dos professores, a organização estudantil, etc..
Nesse ponto os jovens marcaram muito a posição de que quando lançam alguma ideia pra fazer outras atividades na escola são logo rechaçados, não tem direito a voz, não são respeitados pela estrutura escolar, e por isso não sentem interesse em propor qualquer coisa.
Pra qualificar um pouco mais a discussão convidamos os jovens Emerson, Roberta e Gabriel, ex-alunos da E. E. Vieira de Morais, para contar sua experiência de organização estudantil contra o autoritarismo da direção da escola. Sem poder acessar biblioteca, quadra, sala de informática, organizar grêmio estudantil, os jovens da escola se juntaram, conversaram, debateram, organizaram uma greve estudantil, resistiram, mobilizaram parlamentares, professores, sindicato... e conseguiram provocar um debate muito importante sobre a participação dos alunos na organização da escola! E de quebra derrubaram a diretora!
Os jovens discutiram com os ex-alunos sobre essa atuação, ouviram, questionaram, se colocaram, trocaram experiências! Falamos um pouco sobre a LDB e suas regras que estão, ainda, no plano das ideias. E sobre como questionar isso!
Nos dias que se seguiram a ideia foi produzir uma carta de sugestões sobre o ensino público, onde os jovens levantariam ideias, a partir de sua própria vivência, sobre como tornar a escola um lugar mais interessante.
Inicialmente reconstruímos a história da escola no Brasil, as alternativas de modelos de ensino, o papel do positivismo na escola, a reafirmação ideológica dentro da escola, a quem ela interessa, quem leva vantagem em manter a sua estrutura como é!
Pensamos também em a quem a escola serve, afinal, não é por acaso que ensino é tão ruim, não é incompetência, é ação política! Logo, após várias discussões, concluímos que empresários, políticos, grandes veículos de comunicação... A todos estes interessa uma população sem capacidade de análise e interpretação.
Partimos então pro levantamento das possíveis ações que os jovens poderiam fazer para melhorar o aprendizado, o cotidiano, a estrutura, etc..
Muitas coisas, muitas ideias, muito debate e o levantamento dos pontos que deviam constar na carta.
A ideia não era fazer uma carta pra ficar de enfeite no Blog, com todo empenho dos jovens congelado. Já levaríamos a carta às mãos da Secretaria de Educação (onde ainda não entregamos). Mas pensei em algo mais simbólico: levar a carta a um deputado na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
Pensei no deputado Carlos Giannazi, que pauta seu programa político na defesa de uma educação de qualidade. Se é assim vamos ver como ele reage com os principais atores frente a frente!
Conversei com os jovens e, após uma preocupação inicial, decidirmos ir. Engraçado ver que as preocupações deles estavam pautadas em coisas do tipo, "mas a gente pode entrar lá!?", "não vamos ser expulsos de lá, né!?", entre outras...
Marcamos então a ida, solicitando uma audiência com o Deputado, pois não queríamos dar a carta na mão de um assessor, como é de costume. E achei que era isso que ia acontecer...
Mas nos surpreendemos. Como hora marcada prás 15h, chegamos e fomos até o gabinete dele. De lá fomos encaminhados pra um salão onde fomos recebidos pelo próprio Giannazi, que conversou com os jovens, recebeu a carta, levou-nos pra assistir à plenária, sugeriu formas de atuação e se dispôs, em palavras, a aprofundar conversas sobre os problemas da educação pública em São Paulo, se possível, indo até o Prainha.
Claro, não há nada de garantido nisso, mas o objetivo da ida a Assembléia era mostrar aos jovens que todos os caminhos são importantes pra travar uma luta pra mudar a realidade do que eles vivem... e detestam! Foi de lembrar que, ainda que não gostemos da realidade política, ela está posta, os deputados legislam, são eleitos, re-eleitos, ganham muito bem, então temos de ir lá, não num escritório político, mas na Assembléia, lembra-los que sabemos quem são, o que devem fazer, e que estamos vendo. Ainda que o sistema não seja nada perfeito, eles ainda vivem de votos... Então não podemos simplesmente aceitar que eles vivam tranquilamente só porque não concordamos com o sistema! A Legislação, ruim que só ela, ainda pode ser mudada!
Ou não!
Mas, com essa experiência, se alguém tem que decidir se acredita ou não na política são os jovens, não eu...
A discussão sobre educação foi mais longe do eu esperava que podia fazer, entrando sobretudo na questão de que não é só na escola que se aprende e que se a escola pretende se tornar um espaço de formação humana de verdade!
Na página jovem estão os relatos deles sobre a ida a Assembléia!

Abaixo, a carta com as idéias jovens e fotos de nossa ida a assembleia!


CARTA ABERTA DE INDICAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO PÚBLICA


Exmo. Deputado Carlos Giannazi

Vimos por meio desta pedir sua atenção sobre o processo de desmoronamento que sofre a educação pública.
Somos jovens estudantes e concluintes do ensino médio da região do Grajaú, zona sul de São Paulo e, após passar cerca de dez anos dentro destas escolas, acreditamos poder reivindicar e sugerir melhorias em sua estrutura geral, de forma a que a escola pública se torne um espaço plural, dialogado, dinâmico e interessante.
Cabe dizer que muito se tem falado de como os jovens em geral estão desinteressados e não aprendem sequer o básico do que é passado nas escolas, estando mal preparados para o mercado de trabalho e, mais ainda, para ingressar na universidade.
No entanto, não nos recordamos de qualquer momento onde foi nos perguntado o que achamos da escola, de sua estrutura, de sua forma, de seus conteúdos, etc..
A escola, no passar dos anos, tem se afirmado como um espaço para onde vamos por obrigação, sem entender quais são as relações dos conteúdos transmitidos com o que vivemos no dia a dia. As matérias nos são ensinadas de forma pouco atrativa, apenas oral e textualmente, de forma autoritária, onde não podemos nos colocar, questionar debater, etc..
No geral, nos sentimos prisioneiros da escola e, por ser jovens em fins de adolescência, indesejados. Não somos respeitados por diretores, professores, serventes, inspetores, etc., sobre toda e qualquer situação onde queremos discutir, conversar, contrapor ou sugerir.
Utilizamos, então, nosso direito de expressão e reivindicação e, conhecendo sua posição por uma educação pública digna e de qualidade, queremos ajudar a pensar em formas mais interessantes e próximas da nossa realidade para desenvolvimento do ensino público.


As aulas devem ser dinâmicas. Atividades com filmes, música, ações fora da sala de aula, produções em multimeios; podem ser formas de dinamizar as aulas. Uma aula de literatura pode ser iniciada com um filme; uma aula sobre estrutura poética pode ser realizada com RAP; uma aula de química pode ser realizada com culinária;

Outras atividades que ampliam nossas capacidades intelectuais e físicas, como teatro, dança, música, mostras culturais, deviam ser incorporadas a estrutura escolar pública. São atividades que podem ser relacionadas aos conteúdos das aulas, dotando estas de maior sentido.

Deviam haver excursões relacionadas às aulas, que complementassem ou introduzissem matérias ou conteúdos. Por exemplo, visitar o Museu Catavento para discutir Física; ou o Museu da Língua Portuguesa para aulas de Português. Tornaria as atividades agradáveis, divertidas e nos fariam aprender com mais facilidade, vendo as coisas na prática. Excursões por diversão também são importantes, mas poderiam incluir, também, museus, teatros, espaços culturais, etc..

A informática precisa ser incorporada às aulas. Não no sentido de educação à distância, mas de termos atividades utilizando a internet , como blogs, e programas de computador. Estes já fazem partem do nosso dia a dia, fazendo com que nossa integração às aulas seja maior.

Laboratórios e bibliotecas precisam ser integrados ao sistema de ensino. Quando existem nas escolas não podemos usá-los, ou podemos com muitas restrições. Aulas de química e física são extremamente desinteressantes quando dadas somente oral e textualmente.

As aulas de Educação Física precisam ter algum objetivo claro e variedade de esportes para escolhermos o que queremos participar. Em geral ficamos brincando ou “jogando bola”, fazendo com que a aula pareça simplesmente um passatempo.
As apostilas, cartilhas, jornais e afins precisam ser retirados das escolas. Seu uso padronizou o ensino de forma negativa, pois os professores não têm liberdade para desenvolver aulas próprias, as cartilhas apresentam muitos erros e, se já não havia dinâmica nas aulas, desde o inicio das apostilas isso piorou. Precisamos de uma escola plural e não padronizada.

A escola pública podia se estruturar numa forma onde tivéssemos o ensino básico, onde todos aprenderiam de forma generalizada, e depois um ensino complementar e profissional conjunto. Nessa segunda fase poderíamos escolher as matérias que gostaríamos de aprofundar conhecimentos de acordo com o que pretendemos estudar na universidade e com a profissão que escolhermos. O ensino profissional deve ser parte do ensino público regular, como forma de melhorar as condições de vida dos jovens de periferia.

O ensino público precisa desenvolver um sistema de incentivo a leitura que se inicie nos primeiros anos de estudo das crianças, com revistas em quadrinhos, livros infantis, etc., desenvolvendo-se com o passar dos anos para leituras mais complexas. É muito difícil chegar ao Ensino Médio e ter de ler e interpretar obras literárias, inclusive com vistas a universidade, sem nunca ter tido incentivo e desenvolvimento da leitura nos anos anteriores.


Esperamos que estes apontamentos sirvam de alguma maneira na avaliação, discussão e propostas para melhoria da escola pública, de forma a criar um espaço participativo, plural, dinâmico e que cumpra seus objetivos como espaço de aprendizado e formação para a vida de crianças e jovens.



Atenciosamente,


Alessandra Beres, Camila Lima, Caroline Braz, Ciara Souza, Daniele de castro, Fernanda Gomes, Gabriela Simora, Guilherme da Silva, Ingrid Caroline, Keity Gomes, Keyla Lidia, Laura Rita, Luana Alves, Lucas de Araújo, Maria Daniele Rodrigues, Marisa de Lima, Rita de Cássia, Willian Martins e Yasmin Dominguês.


Programa Jovens Urbanos – Comunidade Assistencial Jardim Prainha


São Paulo, 30 de agosto de 2011







15 jovens foram para esta exploração

Nenhum comentário:

Postar um comentário